Autor: Menassé Bemerguy
Data: 24-10-2019
Quando a gente tem um dom artístico as pessoas sempre dizem ” isso não dá dinheiro” ele é um sonhador!
E então esse pendor começa a enfraquecer e não acredita mais em si mesmo …O tempo passa e as necessidades crescem, o talento se aproxima e nos afastamos dele … Às vezes ele grita dentro da gente , nas não o escutamos. E ficamos tristes quando vemos alguém que com menos talento, entretanto, consegue aparecer e fazer sucesso…A gente mata todo dia o nosso próprio dom…
Havia um homem que tinha um grande talento.
Mas, as pessoas sempre lhe diziam : arte não dá dinheiro… vá trabalhar ou morrerá de fome…
E o homem seguia sua labuta, quando pensava em investir em seu talento, sempre tinha um compromisso a cumprir. E assim o tempo foi passando…
Até que um dia ele encontrou -se num dilema: ou ele sobrevivia ou sobrevivia o talento…
Ele preferiu sobreviver e prometeu que mataria o talento …pouco a pouco…dia após dia…
E a cada vez golpeava o talento que existia dentro de si…através de sua baixa autoestima, desesperança e descrença na humanidade.
Certa vez disse que liquidaria em definitivo o talento que ainda existia dentro dele…e teve uma vida tão sem sentido, sem objetivos , sem ânimo que resolveu um dia mergulhar num rio de correntezas fortes e se deixou levar por ela e tinha na sua mente que assim seria a única forma de se encontrar com o seu talento… E dessa forma escreveu uma triste página de sua obra e assim matou definitivamente o talento que ainda restava dentro dele…em busca da margem oculta do rio. Como deve ter sido
doloroso para ele fustigar e ferir todo dia seu talento, brigando com ele, espancando-o , humilhando-o e desacreditando a si mesmo, naquilo que tinha de melhor.
Assim morre-se por dentro ao impedir o talento de aflorar e a realidade subjuga a fantasia , mata a criatividade e só deixa viva a existência concreta e aprisiona a fantasia da arte dentro do relógio de ponto, na assiduidade do cotidiano e na constância da mesmice diária , sem direito a nada de novo, o sangue corre nas veias e o coágulo da mediocridade impede a passagem do abstrato, do surpreendente , do tema surreal ou de uma realidade fantástica, além da imaginação e que extrapola o natural e beira o fantasioso mundo que se desconhece e por onde poucos e raros seres humanos ousam trilhar. Mas agora é tarde o talento está sem movimento , estático , sem vida. E a pergunta que se faz é : como matar o talento?
O talento morre por inanição, quando o seu dono não lhe dá o suprimento diário de liberdade , rebeldia , crença no absurdo de seu poder, o poder para poder realizar sua magia e deixar encantados até quem não acreditava nele. Nem o mais insensível dos homens fica imune a algo que toca o fundo de sua alma, em forma das noves musas-irmã, algumas delas invadirá o coração, mesmo do mais duro ou o mais grosseiro dos homens, em algum lugar haverá uma parte sensível ao talento em forma de arte.
Como é doloroso assassinar o talento, mas o golpe de misericórdia virá quando soubermos que ao matar o talento , atingiremos ao mesmo tempo a nossa alma em cheio, bem no meio do peito que não canta e nem sente alegria, vive por viver, pois é presa de um talento sem liberdade de aflorar e talvez no rio, consiga achar um furo que o leve por grutas que desembocam numa grande cachoeira, onde habitam musas, ninfas , ninfetas , sereias, iaras e Janaínas, que tocam flautas e fazem desabrochar flores e descortinar o dia e despertar a noite e respingar estrelas e conseguem flutuar a lua cheia e assoviam para a floresta e controlam o curso do mar e equilibram os barcos em meio às ondas…
O talento sobrevive…em meio às tormentas e se livra do encontro fatal com as rochas lisas e segue seu curso…ao encontro da eternidade e namora suas ninfetas e faz surgir flores e lendas e estórias de se contar na escuridão da noite, debaixo de uma fogueira e o contar se perpetua em versos, rimas e tramas, de amor, que vence o mal e semeia esperanças, apesar das agruras, o bem sempre se afigura, como o mistério do canto das sereias e sua beleza que encanta e enfeitiça …como a vida.
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