A sociedade dos medíocres.
21-12-2020
Autor: Menassé Bemerguy
Ele ouviu perplexo e de alma lavada todos de minha turma o aplaudirem de pé, inclusive sua professora !
Mas para enterdermos isso é preciso voltar no tempo.
Paulo era de origem judaica e com uma inteligência acima da média e sempre se destacava em todas às atividade daquele mini curso que fazia .
Mas, um rapaz da turma, chamado, Tadeu ao perceber essa sua habilidade começou a polemizar com ele e a tentar hostilizá-lo e deve ter dito algo de negativo sobre Paulo para seus colegas de turma.
Isso era perceptível pelo jeito que alguns da turma o tratavam, sem o devido respeito.
Numa determinada aula a professora pediu que formassem 4 turmas de 5 alunos e colocaram Paulo na mesma turma do Tadeu.
Na hora de preparar um projeto de cunho econômico e social sob determinados parâmetros estipulados pela professora foi designada uma moça , acho que escolhida de propósito , pois ela tinha a letra muito pequena e falava bem baixinho. Essa moça foi incumbida de fazer as anotações de todas as ideias dos integrantes da turma .
Mas a partir daí algo estranho e suspeito começou a acontecer , começaram a hostilizar o sobrenome judaico do Paulo e fazendo piadinhas e deboche sobre isso.
Na hora de dar ideias sobre o projeto , essa dita secretária consultava rapidamente os integrantes da equipe e apesar de anotar as ideias sugeridas por Paulo, com sua letra ininteligível , na prática eras eram sempre rejeitadas pela turma.
No final do trabalho , ao passar a limpo essas sugestões, além de ler e defender o trabalho, deixaram para o Paulo apenas ler um único parágrafo insignificante .
Para piorar tudo, essa moça falava baixinho e nem dava para escutar o que ela lia acerca da redação final do trabalho.
Assim, o grupo recebeu a nota excelente pelo trabalho em grupo e os integrantes dessa equipe receberam a nota máxima , com exceção de Paulo que sugeriu, redigiu e fez praticamente todo o trabalho, pois, para sua surpresa e total decepção recebeu um simples conceito de ” Regular”.
Paulo ficou atordoado e profundamente insatisfeito com tudo isso.
Isso era algo muito sórdido de se fazer com um colega baseado apenas em simpatia, ojeriza criada por um colega e disseminada por uma sociedade de medíocres e inescrupulosos .
Antes do fim da aula a professora passou um slide acerca de um carvalho e de como essa imponente árvore era percebida pelas pessoas e no final se descobria que o vegetal era descrito de maneira totalmente diferente , apesar ser a mesma espécie observada por todos ali ouvidos.
Isso serviu para inspirar Paulo a escrever sobre percepções , avaliações e discriminações.
Paulo pediu licença à professora: leu seu libelo , onde expunha sua opinião sobre como iniciam- se os regimes totalitários e discriminatórios na sociedade e atitudes eivadas de antissemitismo ou discriminação por origem. Para além disso, ainda teve a aguda percepção de ” descobrir” , baseado em profunda e perspicaz interpretação de subtexto , semiótica e alegoria, que na realidade o carvalho estava sendo descrito por quatro (4) pessoas , entretanto cada uma viu essa árvore numa estação diferente do ano , ou seja;
o carvalho que era apresentado no slide era o mesmo , entretanto as estações do ano eram distintas : primavera, verão, outono e inverno .
Paulo denunciou a forma grave e ofensiva como fora tratado e discriminado por sua equipe, numa ação consciente e sórdida orquestrada por Tadeu, sendo que todos os membros da equipe foram coniventes, partícipes e cúmplices e isso se chama : antissemitismo , nazismo e discriminação motivada por sua origem e capacidade intelectual acima da média.
Após ouvir o meu texto, discurso, denúncia e desabafo, a professora admoestou a turma e falou dos valores democráticos e exigiu respeito do grupo para comigo e pedido formal de desculpas, o que fora feito.
E se dirigiu até mim e me abraçou afetuosamente e também pediu escusas em nome da turma toda e retornou à sua carteira e começou a me aplaudir de pé por um minuto….
E para minha perplexidade essas palmas foram replicando por cada aluno daquela turma e por ultimo ouvi e olhei para trás e vi a minha equipe que havia me discriminado e hostilizado há pouco, ora me aplaudindo de pé …e por último levantou o Tadeu e me aplaudiu de pé…. no fundo da sala .
Nesse momento meus olhos marejaram de emoção e alma lavada …
Foram mais de 10 minutos de palmas no ar…
No final cada colega da turma veio apertar a minha mão, pedir escusas chorando e me abraçaram afetuosamente .
Senti um clima de arrependimento no ambiente e no meu coração naquele momento batia ao ritmo de um perdão profundo… como bom cristão.
Agora digo !
Que filme recorda ?
Pensei, como poeta que sou , que estive bem no meio do famoso filme e bem VIVO….
” A sociedade dos poetas mortos ” .
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