O PERFUME ROUBADO

Caía uma chuva torrencial em Belém naquela noite. Estava tudo certo para  Romeu levá-la ao ponto de ônibus. Ele já sentia até o  perfume silvestre de Julieta, bem como o arfar da respiração dela penetrando em seu olfato e poderia abraçá-la carinhosamente visando protegê-la da tempestade. Àquele rapaz , nunca teria outra oportunidade, era um amor platônico e ele queria apenas ser gentil. Pensou em tudo, até começou a imaginar que seria como ter uma namorada , mesmo que por alguns minutos. Queria apenas sentir o calor dos braços de Julieta  sobre os seus  ombros, ouvir sua voz amiúde , ver de pertinho o seu sorriso, como nunca  havia chegado tão próximo de sua paixão secreta. Imaginou até que alguns o veriam na rua  e quem sabe pensariam que aquela moça seria sua namorada e sentiu- se feliz com isso por um instante, mesmo sabendo que seria apenas por uma fração de horas. Sentiu-se corajoso e cavalheiro , pois estava fazendo o bem . Seria capaz de fazer qualquer coisa para protegê-la da intempérie e dos perigos da rua. Estava disposto até a bancar o herói e arriscar sua vida, para deixá-la  a salvo de qualquer meliante. Mas, no momento em que estava se arrumando para sair, chega alguém bem próximo dele e diz: Não precisa mais, deixe que eu a levo na  parada de ônibus e ainda pede o seu guarda chuva emprestado. De repente tudo desmorona … a sua esperança de ficar pertinho de sua amada platônica , a sua respiração fica ofegante e sente até o perfume silvestre dela se esvaindo no ar.

O seu amor próprio despenca como neve, suas esperanças de proteger sua amada perdem-se como as gotas de chuva que correm na beira da calçada  e assim sente  a fragrância   de sua amada sendo subraída no ar. Até o seu momento de ternura lhe foi roubado, junto com o perfume de sua esperança de ser amado.

E voltou ao seu sonho de ser o Romeu por um dia enquanto a chuva não  passava e  ele até morreria pela sua Julieta , mesmo que ela o ignore completamente , apenas porque a ama, num romance  platônico, inocente e mágico. .. Assim como o amor nos rouba  a realidade e nos furta a lógica e a razão. São momentos que só nos adicionam encantamento e paixão, nem que sejam breves como chuva miúda ou tempestades que parecem intensas e sem fim… 

Autor: Menassé Bemerguy

Data: 09.10.2020

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