O POETA E O ANDARILHO, EPISÓDIO 1

O poeta estava sentado  no coreto do Parque da Residência e lia o livro : Cartas a um jovem poeta , do escritor, Rainer Maria Rilke e de repente falou com seus botões:

De que vale ser um poeta se a vida não tem mais sentido … Moro longe da civilização e perto da floresta e converso com as paredes e elas não respondem…Digo bom dia a cavalos e eles não retrucam e apenas relincham…Os pássaros cantam e só falam entre si e quando tento participar da conversa eles voam…E nesse momento o poeta … respira fundo e ouve alguém falar perto dele: esse deve ser maluco, pois fala sozinho ?E ele responde com lágrimas nos olhos: resolvi falar sozinho para não ter que dialogar com o abismo… que me ronda e tenta me atrair… dizendo que quer ” me salvar” da solidão” e do menosprezo das pessoas…Mas , sei no meu íntimo que há alguém que não quer a minha partida… sinto isso e ELE fala em meu coração toda noite…

Nesse instante… um homem que se aproximou dele bem sutilmente, diz: Quem é esse personagem? Ele diz que o nome dele é : Vida e Vida em  abundância”… ( no livro, cartas a um jovem poeta, Rainer diz que a Bíblia é um livro indispensável para ele). O que mais sabe dele? Como ele se chama ? O nome dele é Jesus, diz o poeta! ELE só aparece nos meus piores momentos…parece que fica sempre à espreita  …Certa vez estava atravessando uma longa ponte de madeira e vi o abismo lá embaixo… parecer um lugar lindo e aconchegante, apesar das pedras pontiagudas … senti algo me puxando para  o precipício como se segurasse minhas pernas sem eu ver…Mas por outro lado , eu parecia sentir a minha carne e nervos se esgarçando entre as pedras afiadas lá na ribanceira úmida e sombria…E àquele  interlocutor disse: o que houve depois disso? O poeta responde: eu tive uma espécie de vertigem e não sei ao certo se  escorreguei ou fui empurrado …caí   e vi como em ” câmera lenta” a minha própria queda… uma figura vibrava com isso…Porém algo estranho aconteceu, no meio desse vão haviam árvores e muito vento … e  alguém vergou um galho grosso de árvore e fez que  às minhas mãos alcançassem essa forquilha e interrompeu abruptamente à  projeção do meu corpo que estava todo ralado e ensanguentado , pois atravessara outros obstáculos e assim fui salvo …Incrível , disse o homem ( andarilho) que estava com ele no coreto! Mas , como sobreviveu às feridas e cortes? Um Senhor de roupas ” alvas como a neve” , me colocou em seus braços feito asas e fez um gesto com as mãos e sarou minhas feridas e rasgaduras pelo corpo…E disse- me : “nunca olhe para o abismo, pois abismo atrai abismo”. Hoje estás salvo, meu filho! E o que aconteceu depois disso ? Indagou o homem que estava tentando dialogar com o poeta! – você pergunta demais, homem! O que deseja com essa prosa? Ninguém conversa comigo ! Algum interesse tem! 

E nesse momento o poeta faz uma reflexão: Busco a felicidade perdida e ando por lugares onde veja que ela está por perto : ouço conversas, admiro sorrisos e a alegria dos outros…  e sei que essa tal de  felicidade é arredia e parece que foge da gente…entende?
Uns dizem que ela anda de mãos dadas com o dinheiro…outros falam que elas brigam e se separam muitas vezes?
O que sabe disso, homem que anda a vagar errante pelo mundo , vulgo andarilho? O Andarilho, parece que não entendeu a pergunta ou estava distraído …Para, logo em seguida perguntar de chofre ao poeta

 O que come? Manga com farinha … aqui tem muita e deu um leve sorriso. E o almoço? Às vezes me dão ! Falam  que você era poeta? Assim dizem! Nem lembro disso! Sou um apreciador da natureza e escrevo tudo o que vejo num caderno …Quer comer alguma coisa? Pensa que sou mendigo? Respeite-me, homem! Calma! Não quis dizer isso! 

Eu me alimento das coisas da natureza e a natureza é rica…então como posso ser pobre e mendigo? Sei conversar com as pedras e as árvores!  Como assim? Elas me avisam se vai chover! É mesmo?

Através do vento e pela temperatura das pedras ! Entendi ! Interessante! 

Autor: Menassé Bemerguy

Data: 12-02-2021 (criação do personagem).